Dicas de amamentacao
Momento de leitura: 5 min.
Quando o seu bebé começar a comer alimentos sólidos, poderá pensar que ele já não precisa do seu leite. No entanto, amamentar depois dos seis meses tem muitas vantagens para ambos
A amamentação continua a ser importante depois de chegar ao marco dos seis meses? E durante quanto tempo deve continuar? As respostas poderão surpreendê-la, pois os benefícios adicionais da amamentação para a saúde e o desenvolvimento – que os alimentos sólidos e outros leites não podem oferecer – são muitas vezes ignorados.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a amamentação durante dois anos e mais, o que é válido para famílias em todo o mundo e não apenas em países em desenvolvimento.{1}
"É importante notar que a OMS não define uma duração máxima para a amamentação",{2} diz o Dr. Leon Mitoulas, Diretor da Investigação em Amamentação da Medela. "De uma perspetiva antropológica, a amamentação durante dois anos e meio a sete anos seria o ideal.{3} No entanto, hoje em dia, as normas culturais geralmente implicam o desmame muito mais cedo."
As recomendações da OMS são apoiadas por um recente ímpeto na investigação dos primeiros 1000 dias da vida de uma criança, desde a conceção até ao segundo aniversário.{4} O Dr. Mitoulas explica: "Os cientistas descobriram que a nutrição certa e outros fatores têm o maior dos impactos no crescimento e na saúde a longo prazo durante este período. As evidências demonstram inequivocamente que a amamentação é benéfica de uma forma única durante essa janela de 1000 dias.
"A amamentação pode ser considerada ao mesmo tempo um alimento, um medicamento e um sinal",{5} acrescenta. "E este benefício triplo certamente que continua para além dos dois anos de idade."
Assim que o seu bebé começar a comer alimentos sólidos, por volta dos seis meses, poderá pensar que o seu leite materno passa a ser apenas uma "bebida" que os complementa. Mas, na verdade, é o contrário – quando começar a comer alimentos sólidos, o seu bebé só retira uma pequena proporção das suas calorias e nutrientes dos alimentos.
"É incontestável que o melhor início de vida para os bebés é a amamentação exclusiva durante os primeiros seis meses. Mas, mesmo depois de o seu bebé começar a comer alimentos complementares, o leite materno continua a fornecer nutrição significativa", diz o Dr. Mitoulas.
Tipicamente, quando um bebé mama exclusivamente, consome 750 a 800 ml de leite por dia. Aos 9 a 12 meses, ainda pode tomar cerca de 500 ml por dia, o que fornece cerca de metade da sua dose diária de calorias. Aos 18 meses, provavelmente toma cerca de 200 ml por dia, o que representa cerca de 29% das suas calorias.{6}
É verdade que, depois dos seis meses, o seu bebé necessita de outros alimentos para obter nutrientes que não consegue receber do seu leite materno ou das suas próprias reservas, incluindo o ferro, o zinco e as vitaminas B e D.{1,7} Mas, mesmo no seu segundo ano de vida, o leite materno fornece quantidades significativas de outros nutrientes fundamentais, como explica o Dr. Mitoulas:
"Nesta fase, o leite materno fornece cerca de 43% das proteínas de um bebé, 60% da sua vitamina C, 75% da sua vitamina A, 76% do seu folato e 94% da sua vitamina B12."{8}
Está provado que continuar a amamentar depois dos seis meses reduz as probabilidades de adoecer na infância e na idade adulta e, se o seu bebé ficar doente, ajuda-o a recuperar mais depressa. E quanto mais tempo continuar, mais tempo dura a proteção.
A amamentação protege o seu bebé de infeções e doenças, de tal forma que é mesmo considerada uma forma de "medicamento personalizado", com efeitos potenciais para toda a vida", diz o Dr. Mitoulas.
Por exemplo, foi demonstrado que a amamentação durante mais de seis meses protege o seu bebé de certos cancros infantis, como a leucemia linfocítica aguda e o linfoma de Hodgkin,{9} e reduz as suas probabilidades de desenvolver diabetes de tipo 1 e tipo 2,{10} bem como problemas de visão{11} e dentição{12} e obesidade."{13}
O seu leite materno também pode reduzir o risco de o seu bebé sofrer de diarreia e enjoos,{14} gastroenterite, constipações e gripes, candidíase e infeções nos ouvidos, garganta e pulmões.{9,15} Isto é particularmente útil à medida que for ficando mais velho e começar a interagir com outras crianças, ou for para a creche, onde os germes podem estar disseminados.
A amamentação também pode salvar vidas, como aponta o Dr. Mitoulas: "As consequências de não amamentar entre os 6 e os 23 meses podem ser terríveis em países de rendimentos baixos ou médios, onde os bebés que não são amamentados têm o dobro das probabilidades de morrer de infeções que os bebés que são amamentados, mesmo parcialmente."{16}
E a amamentação não tem a ver apenas com os benefícios do seu leite. Também é maravilhosa para reconfortar e acalmar o seu bebé. Nada acalma um bebé ou uma criança pequena inquieta como uma sessão de amamentação com a mãe. À medida que o seu bebé vai crescendo, uma sessão de amamentação ajuda em tudo, desde a formação dos dentes e as vacinas, até aos inevitáveis choques e arranhões, ou vírus que surgem pelo caminho. Para muitas mães, a amamentação pode ser milagreira.
O ato de estar perto do seu bebé, respondendo instantaneamente às suas necessidades e mantendo muito contacto visual, também transmite sinais entre ambos. Os cientistas pensam que estes podem afetar muitos aspetos do desenvolvimento do seu bebé, desde o apetite até ao desempenho escolar. Quanto mais tempo amamentar, mais probabilidades de o resultado ser altamente positivo.
O leite materno contém milhares de moléculas ativas", explica o Dr. Mitoulas. "Estas variam desde as enzimas que ajudam a digerir as gorduras{17} e das hormonas que regulam o apetite,{18} às moléculas de resposta imunitária que promovem o desenvolvimento do sistema imunitário.{19}
Sabia que o leite materno na verdade está vivo? Todos os dias, o seu bebé bebe entre milhões e mil milhões de células vivas{20}. Existem milhares delas em cada mililitro do seu leite, incluindo células estaminais",{21} continua. "Cada uma destas células tem uma tarefa específica em termos de manter o seu bebé saudável e estão a decorrer estudos de investigação para descobrir de que forma exatamente estes componentes são benéficos para uma criança durante a amamentação a longo prazo."
Algo que já se sabe é que a amamentação prolongada tem um impacto positivo no QI de uma criança. Os estudos mostram uma vantagem consistente de três pontos no QI de crianças que foram amamentadas em relação ao de crianças que nunca mamaram.{22}
A amamentação para além dos seis meses foi mesmo relacionada com menos problemas de comportamento em crianças de idade escolar{23} e com uma melhor saúde mental em crianças e adolescentes.{24}
As referências aos benefícios para a saúde nas embalagens podem ser impressionantes, mas não há melhor leite para o seu bebé do que o seu.
Nenhum leite de fórmula contém todos os anticorpos, células vivas, fatores de crescimento, hormonas ou bactérias úteis, nem a variedade de enzimas, aminoácidos e micronutrientes, que se encontram no leite materno.{25} O seu leite adapta-se para fornecer ao seu bebé mais glóbulos brancos e anticorpos para combater as infeções quando ele está doente{26} – algo que o leite de fórmula simplesmente não consegue fazer. Leia Leite materno versus leite de fórmula: Que semelhanças têm? para obter mais informação.
A amamentação prolongada não só é brilhante para o seu bebé como também é ótima para si. Ao continuar a amamentar além dos seis meses, reduz para toda a vida o seu risco de desenvolver doença cardíaca,{27} diabetes do tipo 2{28} e cancros da mama,{29} ovários{30} e útero."{31} E, muitas vezes, as mães que amamentam não têm os períodos durante muitos meses, podendo ir até aos dois anos.{32}
"O desejo de voltarem ao peso corporal que tinham antes de engravidarem é significativo para muitas mães", diz o Dr. Mitoulas. "Um estudo mostrou que o índice de massa corporal (IMC) de uma mãe é 1% mais baixo por cada seis meses de amamentação."{24}
Além de tudo, depois dos seis meses, a amamentação é muito prática. Os seus seios produzem a quantidade certa de leite quando é preciso e não tem de lavar equipamento ou de levar nada consigo quando vai sair. Também vai poder verificar que, cada vez mais, apenas amamenta em alturas que se encaixam na sua rotina, como antes de ir para o trabalho, depois de ir buscar o seu bebé à creche e à hora de ir para a cama. E mesmo que esteja de regresso ao trabalho, pode utilizar um extrator de leite para extrair leite para o seu bebé e ele poder continuar a tirar partido das vantagens.
Com tantos benefícios comprovados cientificamente, não é de admirar que um crescente número de mães esteja a optar por uma amamentação "de termo natural" ou "de termo completo" e a deixar que o seu filho decida quando é a altura certa para parar.
1 World Health Organization. Health topics: Breastfeeding [Internet]. Geneva, Switzerland: WHO; 2018 [Accessed: 26.03.2018]. Available from: http://www.who.int/topics/breastfeeding/en/
2 Innocenti Research Centre. 1990–2005 Celebrating the Innocenti Declaration on the protection, promotion and support of breastfeeding: past achievements, present challenges and the way forward for infant and young child feeding. Florence: United Nations Children’s Fund; 2005. 38 p.
3 Dettwyler KA. When to wean: biological versus cultural perspectives. Clin Obstet Gyecol. 2004;47(3):712-723.
4 1,000 Days. [Internet] Washington DC, USA; 2018. Available from: https://thousanddays.org
5 TED. TEDWomen: What we don’t know about mother’s milk [Internet]. New York, NY, USA: TED Conferences LLC; 2016. [Accessed 26.03.2018]. Available from www.ted.com/talks/katie_hinde_what_we_don_t_know_about_mother_s_milk/reading-list
6 Kent JC et al. Breast volume and milk production during extended lactation in women. Exp Physiol. 1999;84(2):435-447.
7 Kuo AA et al. Introduction of solid food to young infants. Matern Child Health J. 2011;15(8):1185-1194.
8 Dewey, KG. Nutrition, growth, and complementary feeding of the breastfed infant. Pediatr Clin North Am. 2001;48(1):87-104.
9 Bener A et al. Does prolonged breastfeeding reduce the risk for childhood leukemia and lymphomas? Minerva Pediatr. 2008;60(2):155-161.
10 Poudel RR, Shrestha D. Breastfeeding for diabetes prevention. JPMA. J Pak Med Assoc. 2016;66(9 Suppl 1):S88-90.
11 Singhal A et al. Infant nutrition and stereoacuity at age 4–6 y. Am J Clin Nutr. 2007;85(1):152-159.
12 Peres KG et al. Effect of breastfeeding on malocclusions: a systematic review and meta‐analysis. Acta Paediatr. 2015;104(S467):54-61.
13 Horta BL et al. Long‐term consequences of breastfeeding on cholesterol, obesity, systolic blood pressure and type 2 diabetes: a systematic review and meta‐analysis. Acta Paediatr. 2015;104(S467):30-37.
14 Howie PW et al. Protective effect of breast feeding against infection. BMJ. 1990;300(6716):11-16.
15 Ladomenou F et al. Protective effect of exclusive breastfeeding against infections during infancy: a prospective study. Arch Dis Child. 2010;95(12):1004-1008.
16 Sankar MJ et al. Optimal breastfeeding practices and infant and child mortality: a systematic review and meta‐analysis. Acta paediatr. 2015;104(S467):3-13.
17 Lönnerdal B. Bioactive proteins in breast milk. J Paediatr Child Health. 2013;49(S1):1-7.
18 Gridneva Z et al. Effect of human milk appetite hormones, macronutrients, and infant characteristics on gastric emptying and breastfeeding patterns of term fully breastfed infants. Nutrients. 2016;9(1):15.
19 Field CJ. The immunological components of human milk and their effect on immune development in infants. J Nutr. 2005;135(1):1-4.
20 Hassiotou F, Hartmann PE. At the dawn of a new discovery: the potential of breast milk stem cells. Adv Nutr. 2014;5(6):770-778.
21 Cregan MD et al. Identification of nestin-positive putative mammary stem cells in human breastmilk. Cell Tissue Res. 2007;329(1):129-136.
22 Victora CG et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490.
23 Heikkilä K et al. Breast feeding and child behaviour in the Millennium Cohort Study. Arch Dis Child. 2011;96(7):635-642.
24 Oddy WH et al. The long-term effects of breastfeeding on child and adolescent mental health: a pregnancy cohort study followed for 14 years. J Pediatr. 2010;156(4):568-574.
25 Ballard O, Morrow AL. Human milk composition: nutrients and bioactive factors. Pediatr Clin North Am. 2013;60(1):49-74.
26 Hassiotou F et al. Maternal and infant infections stimulate a rapid leukocyte response in breastmilk. Clin Transl Immunology. 2013;2(4):e3.
27 Peters SA et al. Breastfeeding and the risk of maternal cardiovascular disease: a prospective study of 300 000 Chinese women. J Am Heart Assoc. 2017;6(6):e006081.
28 Horta BL et al. Long‐term consequences of breastfeeding on cholesterol, obesity, systolic blood pressure and type 2 diabetes: a systematic review and meta‐analysis. Acta Paediatr. 2015;104(S467):30-37.
29 Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer. Breast cancer and breastfeeding: collaborative reanalysis of individual data from 47 epidemiological studies in 30 countries, including 50 302 women with breast cancer and 96 973 women without the disease. Lancet. 2002;360(9328):187-195.
30 Li DP et al. Breastfeeding and ovarian cancer risk: a systematic review and meta-analysis of 40 epidemiological studies. Asian Pac J Cancer Prev. 2014;15(12):4829-4837.
31 Jordan SJ et al. Breastfeeding and endometrial cancer risk: an analysis from the epidemiology of endometrial cancer consortium. Obstet Gynecol. 2017;129(6):1059-1067.
32 Howie PW. Breastfeeding: a natural method for child spacing. Am J Obstet Gynecol. 1991;165(6):1990-1991.