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Desafios ao amamentar

Alimentar o seu bebé prematuro com leite materno

Momento de leitura: 8 min.

É particularmente importante para um bebé prematuro tomar leite materno, mas mamar diretamente pode ser um desafio. Leia os conselhos dos nossos especialistas para a ajudarem a dar ao seu bebé prematuro todos os benefícios do seu leite

Se o seu bebé nascer antes da semana 37 da sua gravidez, será classificado como prematuro.{1} Nem sempre sabemos o que provoca um nascimento prematuro, mas existem fatores que aumentam as probabilidades de isso acontecer. Podem incluir, entre outros, uma gravidez de gémeos ou de vários bebés, algumas condições de saúde que afetem a mãe ou o feto ou o facto de já ter tido um bebé prematuro.

Como os bebés prematuros estiveram menos tempo no ventre da mãe, têm de crescer mais e poderão ser mais vulneráveis a doenças e infeções. Também poderão precisar de estar algum tempo numa unidade de cuidados intensivos neonatal (UCI Neonatal).

Por que razão o leite materno é tão importante para um bebé prematuro?

O leite materno é importante para o crescimento e desenvolvimento ideais dos bebés de termo e ainda mais importante para os bebés prematuros.

Fatores importantes como o DHA (um ácido gordo vital para o desenvolvimento saudável do cérebro e da visão)e a imunoglobulina G (um anticorpo) são transportados da mãe para o feto através da placenta, ao longo da gravidez.{2,3} Como nascem cedo, os bebés prematuros não recebem em pleno estes fatores importantes quando estão no ventre da mãe, mas o leite das mães de bebés prematuros contém mais gorduras e imunoglobulina secretória do que o leite de mães de bebés de termo.{4}

Os bebés prematuros também têm tratos gastrintestinais imaturos, o que pode provocar dificuldades na digestão e absorção de nutrientes, por isso, precisam de um alimento que seja fácil de processar pelos seus intestinos. O seu leite materno contém enzimas que ajudam a digestão do seu bebé,{5} bem como o fator de crescimento epidérmico, que, por seu lado, ajuda o intestino a amadurecer.{6} Os bebés prematuros alimentados principalmente com leite materno têm uma permeabilidade intestinal significativamente inferior à dos bebés alimentados essencialmente com leite de fórmula, o que significa que menos partículas (potencialmente causadoras de doenças) conseguem passar através do forro dos seus intestinos para a sua corrente sanguínea.{7}

O leite materno é tão importante para os bebés prematuros que, se as próprias mães não conseguirem, por alguma razão, dar-lhes leite suficiente no início, eles podem ser alimentados com leite doado por outras mães que amamentam, para compensar, em vez de leite de fórmula. 

O leite materno representa melhores resultados para os bebés prematuros?

O seu leite materno inclui agentes protetores que podem ajudar a prevenir condições sérias às quais o seu bebé prematuro está suscetível,{8} como infeções graves,{9} retinopatia da prematuridade (que pode provocar a perda de visão){10} e displasia broncopulmonar (uma doença pulmonar crónica).{11}

Quanto mais leite materno o seu bebé receber, menor o seu risco de doença.{12} Cada 10 ml adicionais por dia, por kg de peso do bebé, reduzem o risco de sepsia em 19%.{9} E o risco de enterocolite necrosante (ECN), uma condição intestinal potencialmente fatal, também é até dez vezes menor nos bebés prematuros que recebem leite materno do que nos bebés que são alimentados com leite de fórmula.{13} Por isso, todas as gotas contam!

Mais importante do que isso, os bebés prematuros alimentados com o leite das suas mães tendem a ter alta, em média, duas semanas mais cedo do que os que são alimentados com leite de fórmula.{14} Também têm quase menos 6% de probabilidades de serem readmitidos no hospital no primeiro ano.{15}

A longo prazo, também está provado que o leite materno melhora o desenvolvimento mental e físico – a investigação mostra que os bebés com baixo peso ao nascimento que receberam leite materno nos cuidados intensivos têm uma vantagem de cinco pontos de QI em relação aos que não receberam{15} – bem como uma melhor função cardíaca mais tarde.{17}

Terei leite se o meu bebé nascer inesperadamente cedo?

Sim – as mães estão prontas a produzir leite materno a meio da gravidez. Quando a placenta é expulsa depois do parto, os seus níveis da hormona da gravidez, a progesterona, descem, permitindo que os seus seios comecem a produzir colostro, o seu primeiro leite. Geralmente, a produção de leite de uma mãe é ativada pelo seu bebé recém-nascido a agarrar a mama e a sugar ritmadamente, mas se o seu bebé nascer cedo, poderá não conseguir mamar no início.

Pode reproduzir as sensações que ativam a produção estimulando os seus seios e mamilos com as mãos, ou utilizando um extrator de leite, que a poderá ajudar a colher o colostro rico em proteínas para dar ao seu bebé.{18} Veja abaixo o que fazer se o seu bebé prematuro ainda não conseguir mamar.

Normalmente, o leite materno "desce" cerca de dois a quatro dias após o parto, mas pode acontecer um pouco mais tarde, no caso de um parto prematuro. No entanto, um estudo recente mostra que o leite das mães que extraíram durante a hora após o parto desceu na altura esperada.{19} É também por isso que é importante extrair leite tão cedo quanto possível.

Como posso preparar-me se souber que o meu bebé vai ser prematuro?

Visite a unidade de cuidados intensivos neonatal (UCI Neonatal) para ver como é e como o pessoal cuida dos bebés prematuros. Também é boa ideia saber como o leite materno é produzido e extraído e compreender a sua importância, não só como nutrição mas também como medicamento, para estes bebés –leia mais no e-book gratuito da Medela A Maravilhosa Ciência do Leite Materno.

E se o meu bebé prematuro não conseguir mamar?

Muitos bebés nascidos antes das 34 semanas têm dificuldades em coordenar a sua sucção, o engolir e a respiração. Até o seu bebé estar pronto, os enfermeiros colocam suavemente um tubo na barriga dele, através do nariz ou da boca, para o alimentarem. Todas as sessões de alimentação do seu bebé podem ser feitas assim até ele estar pronto para começar a mamar.

Se o seu bebé estiver demasiado fraco para se manter agarrado à sua mama e mamar, pode utilizar o extrator de leite do seu hospital ou maternidade para "fazer de bebé". Estimular os seus seios com tecnologia de iniciação baseada na investigação{20} – que imita os padrões de sucção dos bebés humanos – durante as primeiras horas{21} é importante para ajudar a iniciar e a manter a sua produção de leite.

Vai precisar de extrair leite com tanta frequência como aquela com que um recém-nascido saudável mamaria normalmente. Isto significa extrair todas as duas ou três horas – ou seja, um mínimo de oito a doze vezes todas as 24 horas.

Algumas mães poderão ser capazes de administrar com uma seringa pequenas quantidades de leite materno extraído para as bocas dos seus bebés. Ou pode colocar cotonetes embebidas em leite materno na boca do seu bebé.{22} Vai, assim, permitir-lhe provar o seu leite – o que pode fazer com que seja mais fácil passar para a amamentação completa –, além de lhe revestir a boca com os componentes impulsionadores da imunidade e protetores do seu leite. Existem muitas formas de estar envolvida, por isso, pegunte aos seus profissionais de saúde o que pode fazer pelo seu bebé. 

Os bebés com peso muito baixo à nascença, inferior a cerca de 1,5 kg, muitas vezes precisam de proteínas, cálcio e fósforo adicionais, por isso, é-lhes dado um fortificante, juntamente com o leite materno. Em alguns países, estão disponíveis fortificantes derivados de leite humano, mas aqui, no Japão, são derivados de leite de vaca.

Tem algumas dicas sobre a extração de leite?

Se for expetável o seu bebé ficar na UCI Neonatal durante algum tempo, os neonatologistas recomendam a utilização de um extrator de leite duplo para extrair leite para lhe dar – eu recomendo sempre o Symphony da Medela. A extração dupla não só lhe permite extrair mais depressa, como também fornece, em média, mais 18% de leite do que a extração de uma mama de cada vez.{23}

Também encorajo as mães a procurarem a situação mais confortável que consigam para a extração. É amplamente reconhecido que a melhor altura para extrair leite é logo depois ou durante o contacto prolongado pele com pele com o seu bebé (veja abaixo mais sobre este "método canguru") ou quando estiver ao lado da sua cama e puder olhar para ele enquanto extrai. A oxitocina, a hormona que provoca o seu reflexo da descida de leite, é libertada ao olhar, tocar, cheirar e pensar no seu bebé,{24} por isso, o pessoal da UCI Neonatal deverá providenciar um local confortável e uma atmosfera descontraída onde possa fazê-lo.

O que é o método canguru para bebés prematuros?

O método canguru é quando os pais mantêm os seus recém-nascidos em contacto pele com pele contra os seus peitos nus durante períodos longos e pode ter muitos benefícios incríveis para si, para o seu bebé e para a sua produção de leite. O contacto pele com pele ajuda a acalmar o seu bebé e a regular a respiração e o ritmo cardíaco. Mantém-no quente e permite-lhe repousar junto a si ou ao seu companheiro. O método canguru também está associado a mais saúde para os bebés prematuros.{25} No que diz respeito às mães, está associado a maiores volumes de leite extraído{26} e a uma amamentação mais prolongada.{27} Ter tempo para o contacto pele com pele durante, pelo menos, 30 a 60 minutos dá ao seu bebé tempo para acordar e sentir fome, em vez de o apressar.

E se o pessoal da UCI Neonatal oferecer leite de fórmula?

Não hesite em dizer-lhes que quer dar leite materno ao seu bebé e não leite de fórmula. Se o seu leite materno não for suficiente para o seu bebé, peça mais apoio ao pessoal da UCI Neonatal para aumentar a sua produção de leite.

É normal as mães com bebés na UCI Neonatal sentirem-se preocupadas ou stressadas. Por vezes, estes sintomas podem afetar a produção de leite, por isso, é mesmo importante pedir toda a ajuda que for necessária. Lembre-se de que tem o direito de pedir apoio. Os seus profissionais de saúde podem apresentá-la à pessoa indicada para a ajudar na amamentação, como um consultor em aleitamento materno.

E os bancos de leite para leite de dadoras?

A American Academy of Pediatrics declarou que, se o leite da própria mãe não estiver disponível, apesar de haver um apoio significativo na amamentação, deve ser utilizado leite de dadoras pasteurizado.{28} Os bancos de leite certificados têm elevados padrões para avaliar e testar potenciais dadoras, para proceder à pasteurização e para testar o leite antes de ser utilizado em hospitais, de modo a minimizar o potencial de transmissão de infeções.

Como posso passar da extração para a amamentação direta?

Independentemente da idade gestacional do seu bebé, se ele estiver suficientemente estável para ter contacto pele com pele, então poderá constatar que ele procura a sua mama para praticar a sucção (não nutritiva). É a forma perfeita para ele começar a aprender como mamar antes de estar pronto para coordenar totalmente a sucção, o engolir e a respiração.

Os bebés adoram o cheiro do leite das mães, por isso, extrair algum para o seu mamilo antes de pôr o seu bebé na mama poderá ajudá-lo a encontrar o seu mamilo e fazer com que queira mamar. Até poderá conseguir tomar um pouco de leite quando agarrar a mama. Não se preocupe se lhe parecer que ele está a fazer muito pouco – ele está sempre a aprender. Acabará por sugar uma ou duas vezes e passar para a amamentação completa. Até então, poderá ser alimentado com um tubo enquanto o segura junto ao seu peito, pois isso pode ajudá-lo a associar a sua mama e o seu leite ao facto de ter a barriga cheia.

A amamentação não nutritiva pode começar assim que se sinta confortável com o método canguru, desde que o seu bebé não tenha bradicardia (ritmo cardíaco lento) ou dessaturação (pouco oxigénio no sangue). O seu bebé pode passar para a amamentação logo que consiga. Com o passar do tempo e de uma forma gradual, ele irá desenvolver força para se manter mais tempo agarrado à mama e para tomar mais leite.

Referências

1 World Health Organization. Geneva, Switzerland; 2018. Media Centre: Preterm birth fact sheet; November 2017 [26.03.2018]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs363/en/

2 Duttaroy AK. Transport of fatty acids across the human placenta: a review. Prog Lipid Res. 2009;48(1):52-61.

3 Palmeira P et al. IgG placental transfer in healthy and pathological pregnancies. Clin Dev Immunol. 2012;2012: 985646.

4 Underwood MA. Human milk for the premature infant. Pediatr Clin North Am. 2013;60(1):189-207.

5 Pamblanco M et al. Bile salt‐stimulated lipase activity in human colostrum from mothers of infants of different gestational age and birthweight. Acta Paediatr. 1987;76(2):328-331.

6 Dvorak B. Milk epidermal growth factor and gut protection. J Pediatr. 2010;156(2):S31-35.

7 Taylor SN et al. Intestinal permeability in preterm infants by feeding type: mother's milk versus formula. Breastfeed Med. 2009;4(1):11-15.

8 Newburg DS. Innate immunity and human milk. J Nutr. 2005;135(5):1308-1312.

9 Patel AL et al. Impact of early human milk on sepsis and health-care costs in very low birth weight infants. J Perinatol. 2013;33(7):514-519.

10 Zhou J et al. Human milk feeding as a protective factor for retinopathy of prematurity: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;136(6):e1576-1586.

11 Patel AL et al. Influence of own mother's milk on bronchopulmonary dysplasia and costs. Arch Dis Child Fetal Neonat Ed. 2017;102(3):F256-F261.

12 Meier PP et al. Improving the use of human milk during and after the NICU stay. Clin Perinatol. 2010;37(1):217-245.

13 Lucas A, Cole TJ. Breast milk and neonatal necrotising enterocolitis. Lancet. 1990;336(8730-8731):1519-1523.

14 Schanler RJ et al. Randomized trial of donor human milk versus preterm formula as substitutes for mothers' own milk in the feeding of extremely premature infants. Pediatrics. 2005;116(2):400-406.

15 Vohr BR et al. Beneficial effects of breast milk in the neonatal intensive care unit on the developmental outcome of extremely low birth weight infants at 18 months of age. Pediatrics. 2006;118(1):e115-123.

16 Victora CG et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490.

17 Lewandowski AJ et al. Breast milk consumption in preterm neonates and cardiac shape in adulthood. Pediatrics. 2016;138(1):pii:e20160050.

18 Meier PP et al. Which breast pump for which mother: an evidence-based approach to individualizing breast pump technology. J Perinatol. 2016;36(7):493-499.

19 Parker LA et al. Effect of early breast milk expression on milk volume and timing of lactogenesis stage II among mothers of very low birth weight infants: a pilot study. J Perinatol. 2012;32(3):205-209.

20 Meier PP et al. Breast pump suction patterns that mimic the human infant during breastfeeding: greater milk output in less time spent pumping for breast pump-dependent mothers with premature infants. J Perinatol. 2012;32(2):103-110.

21 Parker LA et al. Association of timing of initiation of breastmilk expression on milk volume and timing of lactogenesis stage II among mothers of very low-birth-weight infants. Breastfeed Med. 2015;10(2):84-91.

22 Lee J et al. Oropharyngeal colostrum administration in extremely premature infants: an RCT. Pediatrics. 2015;135(2):e357-366.

23 Prime PK et al. Simultaneous breast expression in breastfeeding women is more efficacious than sequential breast expression. Breastfeed Med 2012; 7(6):442–447.

24 Uvnäs Moberg K, Prime DK. Oxytocin effects in mothers and infants during breastfeeding. Infant 2013; 9(6):201–206.

25 Boundy EO et al. Kangaroo mother care and neonatal outcomes: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;137(1): e20152238.

26 Acuña-Muga J et al. Volume of milk obtained in relation to location and circumstances of expression in mothers of very low birth weight infants. J Hum Lact. 2014;30(1):41-46

27 Nyqvist KH et al. Towards universal kangaroo mother care: recommendations and report from the first European conference and seventh international workshop on kangaroo mother care. Acta Paediatr. 2010;99(6):820-826.

28 American Academy of Pediatrics - Section on Breastfeeding. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics. 2012;129(3):e827-841.

 

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